sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PASTORAL 27/10/2013 - A IMPOSSÍVEL ARTE DE AMAR

A Bíblia nos ensina que o amor não procura seus próprios interesses (ICo. 13:5), mas hoje parece que estamos fazendo justamente o contrário. Nós até amamos a Deus e o próximo, desde que nossos interesses não sejam tocados. Tenho aprendido através do ministério pastoral a experimentar o amor de forma um pouco diferente do usual. Às vezes é decepcionante ver que as pessoas não dão crédito à Palavra que pregamos e as orientações que damos, mas no momento que nossa vontade é largar tudo de mão, Deus derrama um amor incondicional pelas pessoas. Assim, por mais que elas “nos façam sofrer”, nos decepcionem e não ouçam a nossa orientação. Estou aprendendo o que realmente é AMAR, quando não desisto delas, porque Deus nunca desistiu de mim e nem delas.

Esta semana um grupo de bandidos invadiu uma casa em Realengo e assassinou 7 pessoas. O que me chamou a atenção nessa tragédia (sem contar na violência gratuita) foi a declaração de um pastor que dizia estar tentando ajudar alguns do grupo a saírem do vício. Pensei: como deve ser frustrante para um pastor ver pessoas morrendo, quase que em suas mãos. Amar, de forma verdadeiramente gratuita, quem não vai dar nada em troca, parece meio fora de contexto hoje, pois nós limitamos nossas ações à lógica da recompensa e do nosso julgamento de quem mereça nosso amor. Dessa forma, “amamos” quem é capaz de se adaptar e conviver com nossos interesses. Então, como é possível amar se o EU (interesses, gostos, posses) é maior que o fazer o BEM a quem se diz amar?

Essa lógica infeliz de buscar uma recompensa pode destruir nosso relacionamento com Deus e com o próximo. Pois, na verdade dizemos que amamos a Deus, mas o que queremos mesmo é a recompensa de ir para o céu, ou pior, desejamos o galardão de uma vida próspera. Tenho aprendido isso: se existe alguma recompensa em amar alguém verdadeiramente, seria o fato de poder estar mais perto de Deus, porque Deus é amor (IJo4:8). Além disso, a ideia de que amar é uma espécie de retribuição a qualquer tipo de merecimento, também tem infantilizado nossa espiritualidade. Hoje, a maioria de nós não tem suas expectativas amorosas atendidas porque idealizamos o amor, e estamos esquecendo de vivê-lo em verdade e essência. Até mesmo com Deus. Nossa civilização é uma teia de contradições, onde associamos o romantismo trágico, platônico e melancólico do século XIX, ao consumismo e a satisfação de nossos desejos do século XX. E o que temos hoje? Um homem que procura  um amor que ainda não encontrou diferente de todos que amou” (FREJAT). Queremos uma utopia, isso não é de todo ruim, mas quando abrimos mão da realidade em função da ilusão, nunca experimentaremos realmente o amor, somente a idealização construída em nossa mente.    


 Na realidade o amor pode até ser expresso em forma de canção, presentes e agrados, mas ele se manifesta mesmo em atitudes concretas, onde TUDO SOFRE, TUDO ESPERA E TUDO SUPORTA (ICo.13:7). É assim que provamos se o que temos realmente é amor, ou um devaneio egoísta de nossa mente infantil. Um grande erro de nossa civilização é achar que nossas carências afetivas são curadas com romantismo, ou relacionamentos que nos satisfaçam. Só que não. Isso produz ainda mais carência.  Nunca iremos experimentar toda dimensão do amor de Deus em Cristo (Ef.3:16-19) se continuarmos buscando um amor que satisfaça, ou um amado que “mereça” nosso amor. Quando olho nosso tempo, vejo que realmente é impossível isso tudo que lemos em I Coríntios 13, Paulo deveria estar meio louco quando escreveu isso. Na verdade, essa é essa loucura que confunde e envergonha as coisas sábias de nosso tempo (ICo. 1:27), desafiando a lógica da recompensa e da satisfação. Assim, o amor em Deus se torna possível quando aprendemos a sofrer no lugar do outro; quando temos esperança no melhor do outro, mesmo que tudo diga o contrário; e quando conseguimos suportar as fraquezas, os defeitos e os problemas daqueles que amamos. Minha oração e súplica, é que possamos realmente amar uns aos outros, porque o amor é de Deus e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus (IJoão 4:7). 
PJ

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