A Bíblia nos ensina que o amor não procura seus próprios
interesses (ICo. 13:5), mas hoje parece que estamos fazendo justamente o contrário.
Nós até amamos a Deus e o próximo, desde que nossos interesses não sejam
tocados. Tenho aprendido através do ministério pastoral a experimentar o amor
de forma um pouco diferente do usual. Às vezes é decepcionante ver que as
pessoas não dão crédito à Palavra que pregamos e as orientações que damos, mas
no momento que nossa vontade é largar tudo de mão, Deus derrama um amor
incondicional pelas pessoas. Assim, por mais que elas “nos façam sofrer”, nos
decepcionem e não ouçam a nossa orientação. Estou aprendendo o que realmente é
AMAR, quando não desisto delas, porque Deus nunca desistiu de mim e nem delas.
Esta semana um grupo de bandidos invadiu uma casa em Realengo
e assassinou 7 pessoas. O que me chamou a atenção nessa tragédia (sem contar na
violência gratuita) foi a declaração de um pastor que dizia estar tentando
ajudar alguns do grupo a saírem do vício. Pensei: como deve ser frustrante para
um pastor ver pessoas morrendo, quase que em suas mãos. Amar, de forma
verdadeiramente gratuita, quem não vai dar nada em troca, parece meio fora de
contexto hoje, pois nós limitamos nossas ações à lógica da recompensa e do
nosso julgamento de quem mereça nosso amor. Dessa forma, “amamos” quem é capaz
de se adaptar e conviver com nossos interesses. Então, como é possível amar se
o EU (interesses, gostos, posses) é maior que o fazer o BEM a quem se diz amar?
Essa lógica infeliz de buscar uma recompensa pode destruir
nosso relacionamento com Deus e com o próximo. Pois, na verdade dizemos que
amamos a Deus, mas o que queremos mesmo é a recompensa de ir para o céu, ou pior,
desejamos o galardão de uma vida próspera. Tenho aprendido isso: se existe
alguma recompensa em amar alguém verdadeiramente, seria o fato de poder estar
mais perto de Deus, porque Deus é amor (IJo4:8). Além disso, a ideia de que
amar é uma espécie de retribuição a qualquer tipo de merecimento, também tem
infantilizado nossa espiritualidade. Hoje, a maioria de nós não tem suas
expectativas amorosas atendidas porque idealizamos o amor, e estamos esquecendo de
vivê-lo em verdade e essência. Até mesmo com Deus. Nossa civilização é uma teia
de contradições, onde associamos o romantismo trágico, platônico e melancólico
do século XIX, ao consumismo e a satisfação de nossos desejos do século XX. E o
que temos hoje? Um homem que procura um amor que
ainda não encontrou diferente de todos que amou” (FREJAT). Queremos uma
utopia, isso não é de todo ruim, mas quando abrimos mão da realidade em função
da ilusão, nunca experimentaremos realmente o amor, somente a idealização
construída em nossa mente.
Na realidade o amor
pode até ser expresso em forma de canção, presentes e agrados, mas ele se
manifesta mesmo em atitudes concretas, onde TUDO SOFRE, TUDO ESPERA E TUDO
SUPORTA (ICo.13:7). É assim que provamos se o que temos realmente é amor, ou um
devaneio egoísta de nossa mente infantil. Um grande erro de nossa civilização é
achar que nossas carências afetivas são curadas com romantismo, ou
relacionamentos que nos satisfaçam. Só
que não. Isso produz ainda mais carência. Nunca iremos experimentar toda dimensão do
amor de Deus em Cristo (Ef.3:16-19) se continuarmos buscando um amor que
satisfaça, ou um amado que “mereça” nosso amor. Quando olho nosso tempo, vejo
que realmente é impossível isso tudo que lemos em I Coríntios 13, Paulo deveria
estar meio louco quando escreveu isso. Na verdade, essa é essa loucura que
confunde e envergonha as coisas sábias de nosso tempo (ICo. 1:27), desafiando a lógica da recompensa e
da satisfação. Assim, o amor em Deus se torna possível quando aprendemos a
sofrer no lugar do outro; quando temos esperança no melhor do outro, mesmo que tudo diga
o contrário; e quando conseguimos suportar as fraquezas, os defeitos e os
problemas daqueles que amamos. Minha oração e súplica, é que possamos realmente
amar uns aos outros, porque o amor é de Deus e todo aquele que ama é nascido de
Deus e conhece a Deus (IJoão 4:7).
PJ
PJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário
FAÇA O SEU COMENTÁRIO