sábado, 28 de setembro de 2013

PASTORAL 29/09/13 - QUANDO A FÉ NÃO TEM RAZÃO


A Bíblia diz que a FÉ é uma certeza e uma convicção (Hb.11:1). Isso significa que a Fé basta para a compreensão da vida e de nossa existência? Sinceramente não sei, mas podemos refletir sobre como construímos, consolidamos e provamos essa certeza e convicção firmada em nossos corações e mentes. Como experimentamos a Fé?

Para mim, a fé é o tema teológico mais complexo e misterioso de se trabalhar. Quando tentamos explicar o que é a fé, nos limitamos a colocá-la em um lugar que não a comporta. Ou seja, a fé não cabe na nossa razão. Por mais engenhoso que seja o esquema explicativo, sempre estaremos limitando a fé a uma expressão religiosa, uma experiência espiritual, uma forma de controlar as pessoas, ou um mecanismo intrínseco de nossa humanidade. Por mais que a fé possa ser vista como um instrumento argumentativo para aquilo sem explicação, ou uma forma de organizar a mente de um conjunto de pessoas em relação a si e ao mundo, a simplicidade em se construir uma certeza, tendo como base “aquilo que se espera”, e a uma convicção baseada no que “não se pode ver”, assusta. Pois, a simplicidade assusta, porque pode ser desconcertante e constrangedora.

A teologia tende a ver a fé como algo que precisa ser racionalizado, pelo menos para compartilhar nossa experiência. Nesse ponto, a religião vem e “impõe” uma organização para nossa fé. No entanto, para percebermos que a  fé é muito mais do que aquilo “interpretado” pelo conjunto dos dogmas religiosos, precisamos mergulhar na experiência com Deus em Cristo Jesus.

A Bíblia nos ensina que a fé sem obras é morta (Tg.2:18), ou seja, a materialização de nossa experiência pode ser percebida quando nossas atitudes se tornam frutos de nossa convicção e certeza. Mas, o fato de “materializarmos” nossa fé, não explica de onde Ela vem, apenas revela a nós e ao mundo que a temos.  Já o livro de Hebreus, nos ensina que Jesus é o autor e consumador de nossa fé (Hb. 12:2).  Assim, a fonte e o fim de nossa fé é Jesus. Isso significa que, no sentido cristão, ela não está na “força de crer” que algo impossível vai acontecer, ou no fato de se ter uma benção desejada.  Significa que nossa fé é desenhada, escrita e composta por Jesus Cristo (Ele é o autor), da mesma forma Ele consuma essa experiência em nossos corações, mentes e em nossas vidas. Portanto, a fé, em primeira instância, não está relacionada com a benção desejada, mas ela está fundada e consumada em Cristo.

Isso significa que, quando buscamos instrumentalizar a fé para o imediatismo, fugimos do propósito cristão para ela. A fé não é subjugada pelo tempo presente, pois ela aponta para a realidade do “Porvir”. Sendo assim, a vida que vivemos hoje, a vivemos na fé do Filho de Deus (Gl.2:20). Porém, hoje as pessoas querem uma fé que atenda as necessidades dos desejos de consumo, das infantilidades emocionais e da falta de comprometimento com as coisas de Deus. Resumidamente: queremos uma  fé que nos ajude para esse tempo presente. Quando buscamos esse tipo de fé, estamos abrindo mão da fé firmada em Cristo que nos garante ver a Glória de Deus e nos contentamos com a "esperança" de uma benção desejada e de ver para poder ter convicção.


Na verdade o que queremos? Uma razão para nossa fé? Estamos confundindo esperança com aquilo que almejamos e certeza com aquilo que podemos ver (comprovar). Sendo assim, “a certeza das coisas que se esperam” acaba limitada por aquilo que almejamos e a “convicção daquilo que não se vê” se transforma em “eu creio no que posso comprovar e entender”. Sim. Queremos uma razão para nossa fé. Mas, e quando a fé não tiver razão, o escolheremos?  Se realmente a razão e a fé andam de mãos dadas como pesava Thomas de Aquino, ou se são faculdades antagônicas de nossa humanidade, não importa tanto (apesar de ser uma discussão muito interessante). O relevante para nossa experiência com Deus é pensarmos que fé e razão são complementares, mesmo que antagônicas. No entanto, a simplicidade da fé não precisa necessariamente da complexidade da razão, pois a fé não precisa ter razão quando ela é realmente experimentada em Cristo Jesus. 
PJ 

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