QUANTO VALE 20 CENTAVOS?
Vivemos no Brasil dias conturbados, onde ninguém sabe direito o que está
acontecendo. O povo brasileiro foi às ruas dando um verdadeiro “grito de
independência”, não como aquele inventado em 1822, mas um verdadeiro clamor das
ruas ressoou nos quatro cantos de nossa nação, a voz do povo diz: “não
aguentamos mais tanta distância entre o que deve ser feito e o que de fato nossos
governantes decidem fazer. Com um estopim na questão do transporte público das
cidades.
Gostaria propor algumas reflexões a respeito dos últimos acontecimentos:
1º NÃO SABEMOS O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Muitos têm buscado entender o que aconteceu no Brasil nas últimas
semanas, outros têm tentado impor uma interpretação tendenciosa para tentar
esconder os reais problemas de nossa nação. Se olharmos para algumas
características desse movimento, fica claro que, com certeza, sabemos o que o
movimento não é. Não é só pelos 20 centavos, não é partidário, não é resultado
de uma imposição da mídia, não contra o que o governo faz, mas contra o que ele
deixa de fazer. E Por aí vai a lista. Nesta tentativa de classificação das
manifestações chovem interpretações das mais loucas, revelando uma tentativa de
apropriações da pressão popular. Por exemplo, quando as manifestações começaram
a pipocar em todo Brasil, a mídia e os governantes teceram duras críticas, mas
logo com a amplitude do grito de 17 de junho, quando mais de 100 mil foram às
ruas no Rio e houve a invasão do teto do Congresso Nacional, acendeu uma luz
vermelha para os dirigentes do Estado. No dia seguinte, o discurso mudou. Outro
exemplo é o próprio diretório do PT nesta semana decide convocar seus militantes
para participar dos protestos, numa tentativa de se apropriar do movimento. Portanto,
sobre tudo isso, sabemos muito mais o que o movimento não é.
2º ESTAMOS VIVENDO UMA CRISE DE LEGITIMIDADE;
Um governo precisa de legitimidade para “manter-se no poder”. A democracia, em tese,
tem como princípio fundamental o governo que “emana do povo”, então quem dá
legitimidade aos representantes do povo é o próprio povo. Se o povo não se vê
representado e não vê o Estado cumprindo com o seu papel, temos um problema.
Agora, admitir essa crise, significa admitir a necessidade de mudanças
(reformas) profundas, para que se mantenha o “pacto social” entre o governo e
os governados. Com certeza, os governantes sabem disso, mas não estão dispostos
a pagar o preço de romper com os seus financiadores. Assim, a máquina do Estado
Brasileiro, em todos os níveis, escolheu ser fonte de recursos para manter
elites, em detrimento às reais necessidades da população. A lógica do Estado
hoje é manter o sistema e nós não aguentamos mais tanta distância. Por isso,
não se trata só de combater a corrupção, melhorar os serviços públicos, ou
reduzir as tarifas das passagens, se trata de cobrar uma efetiva política de
governo que atenda as reais necessidades da população. Na prática precisamos nos perguntar: por que não tenho
água encanada em casa? Por que não sou atendido com dignidade no hospital
público? Por que minha cidade não é minha? Então, sem espaço, sem
representação, resta ao povo a rua, o único espaço verdadeiramente democrático,
onde grupos totalmente plurais encontram um ponto, um lugar e um “inimigo”
comum, evidenciando uma unidade construída de baixo para cima e isso ameaça a
ordem instituída, o Estado como conhecemos.
3º E A IGREJA COMO FICA?
Entendo que é difícil falarmos sobre isso no ambiente eclesiástico, pois
existe uma tendência a separar igreja de política. Não quero discutir isso, mas
refletir sobre o papel integral da missão da Igreja. Isso envolve muito mais
que um plano de ação social ou assistencialismo que a Igreja possa realizar.
Implica em entender o nosso papel no mundo como promotores da justiça e da paz,
como diz
Isaías 1:17 :“aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva.” Podemos entender que isso se aplica em nossas atitudes cotidianas de valorização do próximo e das pessoas que se encontram em situações de necessidade. No entanto, podemos ir além de ações individuais. De um lado podemos promover na Igreja um espaço de reflexão sobre os acontecimentos, sem impor interpretações absolutas sobre os eventos, mas fazendo com que possamos pensar e questionar a luz de nossa fé como podemos interpretar os acontecimentos. Porém, devemos tomar cuidado para não perdermos o foco de missão verdadeira da Igreja. Sendo assim, Igreja e política podem ser pensadas juntas desde que a lógica seja uma luta pelos direitos daqueles que são oprimidos. E, nós estamos sendo oprimidos a cada dia.
Isaías 1:17 :“aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva.” Podemos entender que isso se aplica em nossas atitudes cotidianas de valorização do próximo e das pessoas que se encontram em situações de necessidade. No entanto, podemos ir além de ações individuais. De um lado podemos promover na Igreja um espaço de reflexão sobre os acontecimentos, sem impor interpretações absolutas sobre os eventos, mas fazendo com que possamos pensar e questionar a luz de nossa fé como podemos interpretar os acontecimentos. Porém, devemos tomar cuidado para não perdermos o foco de missão verdadeira da Igreja. Sendo assim, Igreja e política podem ser pensadas juntas desde que a lógica seja uma luta pelos direitos daqueles que são oprimidos. E, nós estamos sendo oprimidos a cada dia.
CONCLUINDO:
Nesta semana o povo brasileiro não se reuniu para pular no carnaval,
para ver jogos da seleção ou para ouvir cantores. O Brasil juntou-se para
gritar “O gigante acordou”. Não sabemos o que vai acontecer: isso tudo pode ser
absorvido e nada mudar, se transformando apenas em uma memória que será
apropriada de formas justas ou não; ou pode gerar mudanças efetivas de promoção
da justiça e de paz, mas para isso as instituições “apartidárias” como as
igrejas, precisam tomar parte nesse movimento, promovendo uma conscientização
dos acontecimentos e do nosso papel frente aos eventos.
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